terça-feira, 24 de julho de 2012

VERSOS MAGNÍFICOS


O preço de um pão roubado
(Welton Melo)

Sou um negro, doutor; sou só um negro
Cuja vida deu rumo distorcido
E apesar de dispor dessa aparência
Acredite doutor não sou bandido.
Eu conheço da vida os cativeiros
Sou mais um dentre tantos brasileiros
Que pernoitam na rua e esmolam um pão
Meu destino doutor foi infeliz
Fui forçado a fazer o que não quis
E fui taxado na rua de ladrão

Fui na frente de todos humilhado
Algemado igualmente a um bandido
Entre socos, tabefes, pontapés...
Por PMs doutor eu fui detido
E por ser mais um filho da pobreza
Me negaram o direito de defesa
E impuseram que eu próprio me calasse
Quando eu fui explicar por que roubei
Fui ao chão com um tabefe que levei
Que chegou a cortar a minha face

Me trouxeram pra cá e aqui estou
Vim aqui pra prestar depoimento
Por um erro que eu mesmo cometi
porem nunca neguei um só momento
Se o senhor como eu já for um pai
Tenho toda certeza de que vai
Entender o porquê que pratiquei
Fui errado doutor não vou negar
Mas um pai que tivesse em meu lugar
Roubaria do jeito que eu roubei

Vi meu filho de fome passar mal
Me dizendo:Papai quero comer!
Eu senti-me impotente seu doutor
Vendo aquilo sem ter o que fazer
Levantei-me dali, pedi esmola
Mas o povo ao passar nem dava bola
Planejei em por fim na própria vida
Me senti como um trem fora do trilho
Pois não tem dor maior que ver um filho
Te implorar por um prato de comida



Quando vi o meu filho agonizando
Aumentou inda mais minha agonia
Sem pensar levantei-me seu doutor
E correndo eu entrei na padaria
De nervoso suo lavava a mão
Vi os pães que ficavam no balcão
E lembrei do meu filho já morrendo
Me senti como ave em cativeiro
E num ato total de desespero
Dei de garra do pão ,sai correndo


Apesar de correr já era tarde
Vi meu filho sem vida ali no chão
Abracei o seu corpo pequenino
Foi ai que ouvi voz de prisão
E o que houve depois eu já falei
Me humilharam bastante,apanhei
E agora me encontro nesse estado
Só o senhor põe um fim nesta novela
Ou me tira pra sempre desta sela
Ou me deixa pagando um pão roubado

As algemas que prendem minha mão
Ferem a honra de alguém trabalhador
Que nem mesmo o senhor me libertando
Vai poder reparar toda essa dor
Mas doutor com a sua competência
Por favor ponha a mão na consciência
E se possível me livre desta teia
O caráter de alguém não se converte
Se achar que estou certo me liberte
Do contrario me deixe na cadeia 

(Sim senho! Eu sou matuto)
Welton Melo

SONETOS


O Brinde

Se há no mundo um Deus para os acasos
Que pela humanidade o bem reparte
Que dá fortuna te dê a melhor parte
Mil venturas te dê, sem lei nem prazos

Eu de alegria tenho  os olhos rasos,
De lágrimas, querida ao vir brindar-te
Quando vejo que até para saudar-te
As flores se debruçam sobre os vasos

O meu brinde é sumário, curto e breve
O nome de quem se quer quando se escreve
Perde-se a pena em traços ideais

Um anjo como tu, quando se brinda
Tem-se a missão cumprida, a festa finda
Quebra-se a taça e não se bebe mais
(Desconhecido)

FOI BREVE, MUITO BREVE A NOSSA HISTÓRIA
(Ronaldo Cunha Lima)

Foi breve, muito breve a nossa história
Mas o bastante para ser lembrada
Como história de amor que foi contada
Por sua condição contraditória

Foi curta, muita curta a trajetória
Mas breve, muito breve a caminhada
É uma pena que ninguém fez nada
Para impedir que fosse transitória

O tempo, foi detalhe nos instantes
E os instantes, moldura dos amantes
Parecendo real, mas ilusória

E o tempo na lembrança nos escreve
Nossa história de amor foi muito breve
Mas o bastante para fazer história



Diniz Vitorino fez:

Se me enxotas mulher, eu parto, já é hora
Não me humilhes no pranto da partida
Pois o maior desspero de quem chora
É não ter sua dor reconhecida

Minha lágrima é de amor, nasceu agora
Mas a tua, depois será nascida
Quanto mais escondida ela demora
Mais será lacrimosa a tua vida

Teus remorsos virão... Eu não sei quando
Haverás de chorar de vez em quando
Eu também chorarei sem ti na acama

Tuas lágrimas expressam falsidades
As minhas, são gotas de saudade
Jamais secam, nos olhos de quem ama


A M I G O

Coração de amigo, um armário imenso!
Onde deposito todos meus queixumes;
Meus ressentimentos ou os meus ciúmes
Deixam-no, às vezes, taciturno e tenso.

Páginas abertas sobre meus costumes,
Íntimas consultas, de coisas que penso,
Formam, com certeza, um capítulo extenso,
Uma coletânea de grossos volumes.

Exponho com toda naturalidade,
Em nome de nossa eterna amizade,
As minhas angústias, emoções e medos,

Os novos amigos, ou amigos velhos,
São os meus oráculos e meus evangelhos,
Meu banco de dados de guardar segredos.
Daudeth Bandeira

Se Voltares...

Como o sândalo humilde que perfuma
E o ferro do machado que lhe corta,
Hei de ter a minh’alma sempre morta
Mas não me vingarei de coisa alguma.

Se algum dia, perdida pela bruma,
Resolveres bater à minha porta,
Em vez da humilhação que desconforta,
Terás um leito sobre um chão de plumas.

E em troca dos desgostos que me deste
Mais carinho terás do que tivestes
Os meus beijos serão multiplicados

Para os que voltam pelo amor vencidos
A vingança maior dos ofendidos
É saber abraçar os humilhados.
(Rogaciano Leite)

Homenagem do poeta Dedé Monteiro ao Professor e Advogado José Rabêlo de Vasconcelos

“Quem passou pela vida em brancas nuvens
E em plácido repouso adormeceu
Quem sentiu o fio da desgraça
Quem passou pela vida e não temeu
Foi espectro de homem, não foi homem
Só passou pela e não viveu”


Mas tu , Rabelo, tu viveste tanto,
Fizeste tanto, tanto te doaste,
Que, mesmo em vista de algum desencanto,
Seguiste em frente, não te acovardaste.

Vestindo toga de demônio e santo,
No mais terrível divinal contraste
Foste guerreiro do riso e do pranto
Todas as lutas sem temor lutaste

Se a poesia perde uma menestrel
Perde o direito um gênio bacharel
E o magistério um mestre sem igual.

Enquanto a gente sofre, chora e sente,
O céu gargalha sobre a dor da gente
Por que recebe um santo genial.
(Dedé Monteiro)