sábado, 21 de julho de 2012

SÍTIO BOM JESUS


ESTES VERSOS, PARA QUEM CONHECEU E VIVENCIOU O BOM JESUS, SÍTIO DOS MEUS AVÓS, NA PEQUENINA CIDADE DE MANAÍRA –PB, NO INÍCIO DOS ANOS 70 AO FINAL DOS ANOS 80, COM CERTEZA, A NOSTALGIA VAI BATER NO CORAÇÃO E VAI SENTIR A ENCHENTE DA SAUDADE DEVOLVENDO OS SEUS TEMPOS DE INFÂNCIA.

O BOM JESUS DE MÃEZINHA E PAPAIVOVÔ

As lembranças da minha meninice
Minhas férias que eu guardo na lembrança
Meus castelos de sonhos de criança
Esta casa mostrou sem que eu pedisse
Nossa vó já cansada da velhice
De garrancho a vassoura ela formava
Com capricho no chão ela passava
Essa cena parece que estou vendo
A SAUDADE MOSTROU VOVÓ VARRENDO
OS TERREIROS QUE TANTO ELA ZELAVA

Impossível, é chegar neste local
Sem lembrar da figura de Mãezinha
Seu terreiro enfeitado com galinha
Lençol branco estendido no varal
Nosso avô apontando no quintal
Que da luta diária regressava
Num curral de madeira ele trancava
O seu gado, com o sol quase morrendo
A SAUDADE MOSTROU VOVÓ VARRENDO
OS TERREIROS QUE TANTO ELA ZELAVA

Pé de turco o terreiro sombreava
Defendendo do sol esse recinto
Quando o neto mais ruim rasgava um pinto
Com um cipó bem fininho ela exemplava
Pouco tempo depois acarinhava
Pois sabia o que estava, ela fazendo
Pra que o neto crescesse já sabendo
Que se vó não Lhe desse, a vida dava
OS TERREIROS QUE TANTO ELA ZELAVA
A SAUDADE MOSTROU VOVÓ VARRENDO

Rapadura do quarto da cozinha
Nel ou Neca era sempre quem furtava
E a panela de barro eu quem raspava
De uma papa que vô comido tinha
Tirei ovo de baixo da galinha
Só pra ver se o filhote ia nascendo
Mas depois eu fiquei, ovo vendendo
Pra pagar as cocadas que eu comprava
OS TERREIROS QUE TANTO ELA ZELAVA
A SAUDADE MOSTROU VOVÓ VARRENDO

A roseira, a morada perfumava
No caminho do açude um umbuzeiro
Capão gordo trancado num chiqueiro
Era o frango que a minha vó capava
A botija de pinha que eu enterrava
Quando a pinha já estava amolecendo
Dava errado se alguém tivesse vendo
Que esse alguém com certeza mim furtava
OS TERREIROS QUE TANTO ELA ZELAVA
A SAUDADE MOSTROU VOVÓ VARRENDO

Para o soturno o transporte era animais
Para o Belém fui a pés todas às vezes
Pra o cercado dezoito atrás das rezes
São percursos que eu lembro até demais
Tomar bênção e tio Quinca e a tio Brás
A tio Lula e a Neném, bolo fazendo
Era um bolo no caco e outro eu comendo
Mas o cão e gata é quem pagava
OS TERREIROS QUE TANTO ELA ZELAVA
A SAUDADE MOSTROU VOVÓ VARRENDO

Seu cabelo da cor de algodão
Sua louça tão limpa que espelhava
O fenômeno que mais lhe atormentava
Era a noite de chuva com trovão
Amarrada, pertinho do fogão
Que era papaivovô que lhe amarrava
O casal de velhinhos se abraçava
E o trovão no telhado estremecendo
A SAUDADE MOSTROU VOVÓ VARRENDO
OS TERREIROS QUE TANTO ELA ZELAVA

Muitas cenas se viu nesse terreiro
Cenas essas que só menino inventa
Vi pandeiro trocado por jumenta
E quem perdeu foi o dono do pandeiro
Pois a jega tornou-se o amor primeiro
Do meu mano que tanto lhe ajeitava
Como esposa, a jumenta ele tratava
E até hoje ele diz: não me arrependo
A SAUDADE MOSTROU VOVÓ VARRENDO
OS TERREIROS QUE TANTO ELA ZELAVA
         Pedro Dias Rabelo de Vasconcelos (Zé Barreira)

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